Estava eu sentado, muito confortável no meu sofá, assistindo ao "Avatar", quando olho para o lado e lá estava ela outra vez.
- Mas isto agora virou sala de espera de consultório médico?
- Engraçadinho! (disse ela com aquela voz profunda e rouca, que aliás me dá uma vontade rir louca).
- Que vens fazer desta vez?
- Suponho que te enganaste no rumo, ou desta é que é de verdade?
- Não! Passei por aqui, porque tenho umas encomendas aqui perto, e pensei passar para te cumprimentar.
- Hum, não me agradam nada essas visitas de cortesia. Dão azar!
- Então que tens feito, além de dormires toda a noite, e coçares as costas no sofá o dia inteiro?
- Humor? O negócio deve andar bom! Tens tido bons contratos?
- Nem por isso. O negócio anda mau. Ninguem quer morrer, então tenho que os obrigar.
- Olha uma coisa! Tira lá essa capa. Não sei como aguentas andar com isso com este calor infernal ( éééé, fiz um trocadilho, mas ela não riu.)
- É melhor não. Podias ter um ataque de coração.
- Não te gabes muito. Eu ando na rua sabes? E às vezes vê-se com cada mais feia. Difilmente me ias assustar.
E, aproveitando a deixa, ela lá tirou a capa.
(Porra, mas que feia...mas continuando...
Encostou a foice e recostou-se no sofá. Até parecia que estava em casa.
- Não te ponhas muito à vontade que não vais demorar muito. (disse eu com o meu melhor sorriso).
- Só aceitei o teu convite porque ando um bocado cansada.
- Já estou um pouco velha para estas andanças.
- Sei! Se isso fosse verdade, já te tinhas demitido. Afinal sempre são uns milhares de anos ao serviço.
Acho que o teu patrão é pior que o José Sócrates. Lá em Portugal só se trabalha até aos 65 anos.
Sei lá! Reformares-te e ires para um Museu lá no Céu, ou qualquer coisa do género.
- Os meus anos de vida não se contam pelos teus. Eu tenho uma contagem diferente.
- Anos de Vida? Pois! De Morte queres tu dizer...
- Já agora só uma perguntinha.. Posso?
- Podes! Já sei que vem disparate, mas vai em frente!
- Já que ocupas os últimos segundos da vida das pessoas, não podias ter uma imagem diferente?
Sei lá! Talvez um George Clooney para as mulheres, e uma Sharon Stone para os homens. Mas isto é só um exemplo.
E PUFF! Lá foi ela embora. Desapareceu sem mais conversa. Mas que indelicada.
Já que me interrompeu a sessão de cinema, ao menos poderia ter-se despedido. Sei lá!?
Um abraço, ou um aperto de mão...
Hum, ou talvez não...
Ora vamos lá continuar a ver o filme.
MMR